
Mercados entregues às moscas e vendedores à solta em Luanda
Dezenas de mercados espalhados por Luanda, que custaram caro ao Estado, estão abandonados.
Foram construídos com o objectivo de proporcionar aos vendedores melhores condições de trabalho, mas estão entregues à sorte, estando em alguns casos já avançado estado de degradação
Contra todos os riscos, os vendedores preferem exercer a sua actividade em locais impróprios, tais como pedonais,
bermas de estrada, por debaixo das pontes, nas faixas de rodagem e outros espaços não apropriados.
As justificações dos vendedores são várias, mas todas convergem na ideia segundo a
qual os clientes dificilmente vão aos mercados, então a solução é ir ao seu encontro.
Quanto aos riscos, os vendedores, a exemplo de Maria Tenente, vendedora de ginguba na Deolinda Rodrigues, diz que entre ser
atropelada e ver os seus filhos a morrerem de fome, prefere a primeira opção.
“Acha que alguém abandona a sua viatura,para ir comprar um pouquinho de ginguba no mercado?”, questiona a mulher atenta,
para ‘agarrar’ o próximo cliente.
Outro vendedor, identificado apenas por Mário com carregadores de telefones e esferográficas nas mãos, vai se movimentando entre as viaturas e no sentido contrário para dar conta do movimento dos motociclos que a qualquer momento passam na
abertura entre veículos, numa situação de perigo eminente. “Aqui consigo encontrar com certa facilidade um cliente”, diz o jovem para quem não há trabalho sem perigo.
Esconderijo de marginais Vários mercados com estruturas devidamente organizadas, mas com as bancadas vazias, acabam por dar lugar a esconderijo de marginais e pessoas dementes.
É o caso do mercado da FTU, há cerca de 300 metros da pedonal, onde vários jovens fazem daquela infraestrutura o seu dormitório. Jololo, um dos jovens encontrado num dos compartimentos, disse que só graças a eles que aquele mercado ainda se mantém intacto, pois o contrário, diz, já teria sido vandalizado. Jololo, que desconhece as razões pelas
quais não se faz um aproveitamento racional do referido mercado, diz que ele e os companheiros estão prontos para abandonar o espaço, tão logo os donos apareçam,mas enquanto isso, “vamos ficar aqui”.
Outra interlocutora é Suzana Luís, vendedora de vários produtos debaixo da pedonal da FTU.
Ela tem conhecimento da existência do mercado, mas afirma que a ideia é aproveitar a passagem de pessoas que buscam
o táxi, assim como os transeuntes.
Quanto à ideia da construção do mercado, considera ser boa, mas afirma que ninguém vai sair da pedonal para ir ao mercado só para comprar, por exemplo, kissangua, um dos seus produtos, dali a escolha da pedonal.
Degradação por desuso
Tal como acontece com a falta de uso de
qualquer infraestrutura, o mercado das Salinas ao Benfica, com capacidade para acolher mais de 400 vendedores, está a cair aos poucos pelo abandono a que foi voltado.
Angelino Moco, vizinho daquela infraestrutura, diz que quando se mudou para aquele local, há quatro anos, o mercado ainda recebia vendedores, mas pouco a pouco foram abandonando o espaço e escolheram a berma da estrada principal como local de
venda.
“Dinheiro do Estado malgasto”, lamenta Angelino Moco que apelou às entidades de direito a reverem a questão destes tão importantes espaços que dariam à cidade uma imagem de organização.
Mabunda com outro visual
O mercado da Mabunda, encerrado recentemente devido a imundície provocado pelas vendedoras de peixe, é outro espaço
que, entretanto, está a beneficiar de obras e restauro para melhor servir.
Depois da limpeza que, por conta da terraplanagem que a área beneficiou, para a alegria dos petizes que encontraram um espaço para uma pelada de futebol, a ideia, nas palavras de Magda da Silva, é levar as vendedoras a exercerem a actividade no interior do mercado, uma estrutura construída há menos de cinco anos, organizada com cerca de 60 bancadas.
A acção do Governo de Luanda estendese a outros mercados, como por exemplo, o do São Paulo.
“Aqui a ideia é da retirada de vendedoras dos passeios para o interior, para permitir segurança, melhor ambiente de trabalho, dando melhor imagem â cidade capital”, segundo palavras de Magda da Silva do gabinete de comunicação institucional do GPL.
Já no Rocha Pinto, a situação não difere dos restantes.
Situado na rua de serviço, no sentido Largo do Gamek Força- Aérea, há muito O Governo Provincial de Luanda (GPL)
controla 208 mercados espalhados por todos os municípios, sendo o maior aglomerado de mercados no município
de Viana, por sinal, o mais populoso, que conta com 77. Seguem-se o município de Cacuaco com 27, de Luanda com 24 e do
Cazenga com 17. Kilamba Kiaxi e Talatona contam com 14 mercados cada um.
Entretanto, o GPL continua engajado no reordenamento dos pontos de venda informal de produtos diversos, de acordo
Magda da Silva, do gabinete de Comunicação Institucional do Governal Provincial de Luanda que prometeu criar condições para uma entrevista com a entidade máxima do referido gabinete para abordar a questão dos mercados e sobre o trabalho que está a ser levado a cabo.
Referiu que o plano de reordenamento do comércio abrange outros sectores como o saneamento básico, manutenção das vias e reorganização das paragens de táxi.
GPL controla 200
deixou de ter vendedoras, pois estas preferiram exercer a actividade no passeio.
Um ‘dedinho’ de conversa com um agente da polícia de Trânsito de serviço no local,identificado apenas por Francisco, lamentou a insistência das senhoras à berma da estrada. O agente defende uma acção coesiva para estancar a situação, pois para além do perigo, as vendedoras criam também certo transtorno à actividade policial, pelo facto de os transeuntes não poderem usar o passeio, estando obrigados a partilhar a faixa de rodagem com as viaturas.
Por :Filipe Eduardo