
MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES EMVERGONHADO NAS RUAS DE NOVA YORK- Hitler Samussuku
Os angolanos não são os únicos povos que importunam os lacaios da ditadura. Muitos cidadãos africanos — e não só africanos — já transformaram a diáspora em um verdadeiro espaço de resistência política. A lógica é simples: se dentro dos seus países a repressão cala a voz dos cidadãos, fora das fronteiras esses mesmos cidadãos encontram o espaço de liberdade necessário para confrontar os dirigentes responsáveis pela opressão. Assim, sempre que líderes autoritários ou seus representantes põem os pés na Europa ou nas Américas, são surpreendidos por protestos: uns recebem vaias, outros ovos, outros ainda são cercados por multidões indignadas.
Nós, angolanos, estamos a começar agora com essa cultura. O primeiro grande episódio ocorreu no Reino Unido, quando activistas cercaram o hotel onde João Lourenço estava hospedado com a sua esposa. Depois veio o Brasil, onde JPrivado e Marley Ibrahim decidiram caçar a comitiva presidencial nos hotéis de Brasília. Em Portugal, Lady Laura, Finúria e Kyame protagonizaram um acto sonoro contra João Lourenço na Assembleia da República.
Já em 2025, o ex-ministro da Comunicação Social de Angola, João Melo, não escapou: durante o lançamento de sua obra na Universidade de Brasília — onde, por coincidência, estuda o activista Hitler Samussuku — encontrou uma plateia disposta não a ouvir a literatura, mas a sabotar o evento, registrando tudo em vídeo. Pouco depois, em maio do mesmo ano, João Lourenço foi confrontado no Palácio da Alvorada e no Itamaraty por JPrivado, Dito Dali, Mbonzo Lima, Marley e Hitler Samussuku. O episódio ganhou repercussão em jornais e portais brasileiros.
E não parou aí. Gangsta, Mamã Antónia e Boina Vermelha fizeram o mesmo com o ministro das Relações Exteriores, que acabou envergonhado nas ruas de Nova York, alvo de insultos e xingamentos pela sua subserviência à ditadura.
Enquanto os Serviços de Inteligência e Segurança do Estado fabricam casos de “terrorismo” para aterrorizar o povo e gerar medo social, os jovens angolanos estão a se organizar na diáspora na luta pela alternância política. Este movimento não é apenas um reflexo da repressão interna, mas uma resposta clara ao esgotamento de um regime que insiste em calar vozes críticas em Angola.
Esse tipo de confrontação não é exclusividade angolana. O ditador ugandês Idi Amin foi várias vezes vaiado e rejeitado quando tentava aparecer em eventos internacionais. Robert Mugabe, do Zimbábue, também passou por episódios semelhantes na Europa, confrontado por exilados que denunciavam sua perseguição política. Nicolás Maduro da Venezuela foi hostilizado em Madrid e Nova Iorque por opositores e pela diáspora venezuelana. Até líderes de países democráticos já enfrentaram essas situações: Emmanuel Macron, presidente da França, foi alvejado com ovos e tomates em eventos públicos por cidadãos insatisfeitos; Tony Blair, após a guerra do Iraque, foi cercado por manifestantes sempre que aparecia em universidades britânicas ou norte-americanas.
Esses casos internacionais mostram a relevância dessa forma de activismo: trata-se de expor os poderosos diante da comunidade internacional, de lembrá-los de que a impunidade não é absoluta, de colocar em evidência as vozes que os regimes tentam calar dentro das fronteiras nacionais.
As eleições de 2022 em Angola colocaram o povo diante de um dilema: a continuidade ou a mudança. A victória forçada do MPLA — carregada de desconfiança e contestação — gerou frustração, sobretudo entre a juventude. Muitos jovens escolheram o exílio, mas levaram consigo a chama da resistência. Hoje, eles transformam aeroportos, ruas e salas de conferência em verdadeiros palcos de luta política.
Ou o MPLA muda a jogada, abrindo caminho para um novo ciclo democrático, ou o jogo continuará a ser disputado fora das quatro linhas de Angola. São licções que já foram dadas em muitos países e que os dirigentes angolanos deveriam aprender, antes que a história cobre a sua factura.