Júlio Bessa foi ministro das Finanças de Angola. Também foi governador da então província do Cuando Cubango onde foi exonerado em 2021. Foi membro Bureau Político e do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Recentemente desvinculou-se do maior partido angolano para ser presidente do Partido Cidadania, uma força política legalizada em 2024 pelo Tribunal Constitucional.
Em Angola levantam-se várias questões: Será que mais membros do MPLA vão “abandonar o barco” até 2027, ano de eleições? O Cidadania é um partido satélite para dispersão de votos? É um sinal de que o partido no poder está em declínio ou trata-se de um processo democrático normal? O jurista angolano Agostinho Canando responde.
“É um sinal de que o MPLA está a deteriorar-se por dentro porque sinal do processo democrático, como tal, não acredito. O MPLA tem uma vertente própria que não lhe permite, em princípio, ser tão democrático assim como acontece com outros partidos”, comenta Canando.
Por outro lado, o jurista não descarta a possibilidade de ter sido um partido político criado para dispersar votos nas próximas eleições.
“Porque plano republicano deste partido, em princípio, nós não vimos”, justifica.
Agostinho Canando não acredita, também, que o MPLA venha a perder mais membros até ao próximo escrutínio.
“Porque o MPLA é um partido muito forte internamente.
Então, até 2027, suponho que não irão perder mais membros, mas poderão trazer mais situações para distrair a maioria e ficarmos com a ideia de que perdeu membros e que está fragilizado, mas não.”
Nova filiação é “normal”
Já o cientista político angolano Eurico Gonçalves considera ser “normal e natural” a nova filiação do antigo membro dos “camaradas”.
“Baseada na escolha livre de filiar-se a qualquer partido político desde que se respeite o princípio constitucional da não filiação dupla. Portanto, estamos perante uma situação normal e natural”, argumenta Gonçalves.
O cientista político também vê com naturalidade o surgimento de mais partidos no mosaico político angolano.
“Garanto, desde já, que teremos mais partidos políticos até ao pleito eleitoral de 2027 que será, na verdade, um pleito muito competitivo.”
A DW África tentou ouvir o presidente do Partido Cidadania, mas sem sucesso.
No entanto, no seu discurso de tomada de posse, Júlio Bessa acusou o Governo angolano de perpetuar a corrupção e de não conseguir resolver os problemas básicos da população.
Acusou ainda o Executivo de adotar políticas públicas falhadas que não garantem a saúde, educação, entre outros direitos fundamentais.