
De Acusado de Fraude a Interlocutor de Presidentes: A Estratégia de Reabilitação de Elias Chimuco
Uma imagem recente, mostrando o empresário angolano Elias Chimuco num cordial aperto de mão com o Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, representa o culminar de uma cuidadosamente orquestrada campanha de reabilitação.
A fotografia, que projeta uma imagem de influência e legitimidade internacional, contrasta violentamente com as graves acusações que pesam sobre o empresário em Angola, levantando questões sobre a metamorfose pública de uma das figuras mais controversas do cenário empresarial angolano.
Há pouco mais de dois anos, a realidade de Chimuco era drasticamente diferente.
Em junho de 2023, o “Diário dos Negócios” reportava que o empresário, marginalizado pela administração de João Lourenço devido à sua ligação ao “clã dos Santos”, estaria a preparar uma “mega campanha de lavagem de imagem”.
A necessidade desta campanha surgia após denúncias de que Chimuco participava num “esquema de falsificação de dívida pública que lesa o Estado em centenas de milhões de dólares”.
Na altura, fontes descreviam-no como um homem que estava “a perder rede” (a ficar isolado) e que, segundo alegações, “vive actualmente de fraudar dívidas públicas”.
A estratégia, como o tempo veio a demonstrar, parece estar a dar frutos. Os encontros ao mais alto nível, como este com o Presidente Tshisekedi e o de há dias com o Presidente moçambicano Daniel Chapo, são a prova viva dessa campanha em ação. Ao posicionar-se como um grande investidor pan-africano, Chimuco procura diligentemente apagar o seu passado problemático, substituindo a imagem de devedor e alegado burlador do Estado angolano pela de um parceiro credível para o desenvolvimento de outras nações africanas.
Este processo de reabilitação levanta questões incómodas.
Estarão os líderes africanos, como Félix Tshisekedi, cientes do historial de acusações que recaem sobre o seu interlocutor? Ou será que, numa demonstração de pragmatismo, o potencial de investimento que Chimuco representa é suficiente para ignorar as “bandeiras vermelhas” sobre a origem da sua fortuna e as suas práticas de negócio?
A trajetória de Elias Chimuco é um estudo de caso sobre a sobrevivência e reinvenção das elites económicas em África. Demonstra como a projeção de poder e influência no exterior pode servir como um eficaz “envelope branco” para limpar uma reputação manchada em casa.
Enquanto aperta a mão a presidentes, Chimuco parece estar a enganar não só a sociedade angolana, que aguarda por responsabilização, mas também os líderes continentais que lhe concedem um verniz de respeitabilidade que, segundo as denúncias, ele não possui. A fotografia é de sucesso, mas a história por trás dela é de profunda controvérsia.