
SOBRE A “INTERPELAÇÃO INAMISTOSA” DE GANGSTA-77 AO MIREX NOS EUA- ILÍDIO MANUEL
Está a gerar uma certa polémica nas redes sociais a “interpelação” pública que o angolano Gangsta-77 e mais dois activistas fizeram nesta sexta-feira, ao ministro das Relações Exteriores (MIREX), Tete António, à saída de um estabelecimento comercial, em Nova York.
Para alguns, tratou-se de uma acção legítima, um sinal de indignação contra um membro do Executivo liderado por João Lourenço; para outros, foi um acto de desrespeito e falta de urbanidade para com o governante angolano que se encontrava em missão de serviço no estrangeiro.
Seguramente, tivesse ocorrido a acção de indignação em Angola, nos mesmos moldes, os seus actores estariam a esta hora a arcar com as consequências duras do seu acto “insolente”. O facto de o mesmo ter acontecido num país estrangeiro, sem que disso resultasse consequências negativas para os seus protagonistas, revela que nos EUA, um país com largas tradições em matéria de democracia, as manifestações de protesto têm sido toleradas, desde que não descabem em violência.
À memória vêm-me episódios ocorridos no ano passado em certas capitais europeias quando ministros do anterior Governo do Senegal foram agredidos em público por manifestantes na diáspora; de embaixadas e consulados daquele país africano no estrangeiro atacados em sinal de protesto pelo desejo manifestado pelo ex-PR Marck Sall em concorrer a um terceiro mandato. Todo o tipo de violência física fora dos marcos da lei deve ser condenada.
Será pelo facto de nós, os angolanos, herdeiros de uma cultura lusitana de “brandos costumes”, uma manifestação do género, mesmo sem recurso à violência, pode constituir um “tiro” na paz social, um grave atentado contra a honra e dignidade de um titular de um cargo público? Será por não estarmos habituados a lidar com situações do género? Ou haverá outras razões que não consigo descortinar?